O fenómeno Ringu apanhou o Japão de surpresa. A mera sugestão de uma cassete de vídeo poder espalhar uma maldição tornou-se viral e a saga espalhou-se por várias sequelas, prequelas e até um crossover com a maldição de Ju-On. Nos EUA a saga tomou o nome Ring e sob a direcção de Gore Verbinski e com o protagonismo de Naomi Watts também conseguiu números surpreendentes para um filme de terror, ainda que as sequelas não tenham sido tantas e só em 2017 tenha saído a terceira. Esta última parte demorou a sair, mas os nomes em volta dela eram prometedores, com F. Javier Gutiérrez como realizador e um elenco com o enorme Vincent D’Onofrio e o mediático Johnny Galecki.
A história é sobre um estudo académico da maldição e como se pode transferir o peso da morte em sete dias para outra vítima que o passará para outro voluntário eternamente, como num belo esquema de pirâmide condenado a falhar quando alguém decidir que não quer arriscar a própria vida e esperar que o venha salvar. Quando um dos alvos marcados se esconde e a namorada decide ir procurá-lo, ao mesmo tempo que a polícia investiga as mortes, a cadeia fica comprometida e a única forma de escaparem é indo à origem do mal e resolvendo o que atormenta Samara para que ela os deixe em paz.
Quando o filme começa dá a impressão que actriz e actor terão um peso semelhante na narrativa. Com o passar do tempo ela vai ganhando importância, mas o actor não desaparece completamente para um plano secundário como se esperaria num filme destes. Matilda Lutz (italiana) e Alex Roe (britânico) parecem o típico casalinho americano e conseguem um desempenho competente. Galecki tem um papel diferente do que temos visto em "The Big Bang Theory" e que repetia em “The Master Cleanse”, mostrando finalmente algumas capacidades além do que lhe vemos semanalmente e parecendo ser capaz de muito mais. Já D’Onofrio dispensa palavras pois consegue ser brilhante, por muito pequeno que o papel seja. O problema de “Rings” está na falta de imaginação do argumentista. Aliás, argumentistas. Foi escrito a seis mãos e ainda assim quem tem visto terror no último ano não encontrará nada de novo. Entre os mais recentes “It Follows” e “Don’t Breathe”, até os clássicos “Flatliners” ou “The Final Destination”, “Rings” é uma série de ideias gastas ou obviamente roubadas de outros filmes não tão mediáticos e portanto que o público mainstream não reconhecerá. Ou seja, é um filme de terror para enganar quem não vê cinema de terror. Tem tudo o que precisa visualmente e usa bem o som, mas quem espera algo digno de encerrar uma trilogia que definiu um antes e um depois no terror acabará revoltado e quase com vontade de chorar.
Se não são fãs do terror e só procuram os blockbusters, terão algumas emoções fortes e poderão achar alguns twists e mensagens escondidas interessantes. Se estão por dentro do que vai sendo feito nos EUA (é que nem é preciso ir mais longe) em termos de terror, mais vale irem ver uma comédia romântica ou uma animação com animais falantes pois aqui nada vos assustará.