Após umas jornadas intensivas de cinema em Sitges, estava com desejo de descobrir algum filme que me surpreendesse e me mantivesse colado à cadeira durante 90 minutos. Finalmente, acabei por descobrir The Void. Reconheço que quando os seus realizadores/argumentistas e produtor a apresentaram, me mostrei céptico e receoso do resultado final, ainda assim a experiência acabou por ser muito gratificante e estimulante.
Jeremy Gillespie e Steven Kostanski são os argumentistas e realizadores deste filme. De origem canadiana, ambos possuem uma vasta experiência como directores artísticos e de maquilhagem, respectivamente. Além disso, confessaram ser fãs do cinema de terror e que fazê-lo era o seu sonho, para o qual trabalharam arduamente.
The Void não implica um ponto de inflexão no cinema de terror tal como o conhecemos. Porém, deixará um bom travo. Até para os hedonistas do cinema de terror, creio que encontrarão aspectos de interesse nesta obra. De facto, o filme homenageia/presta tributo, ou como o queiramos chamar, a múltiplas películas de terror de realizadores como Romero, Carpenter, Cronenberg, Russell, Gordon, O’Bannon, etc. As referências são múltiplas, tal como comentaram os realizadores na sua breve introdução antes do filme, e ainda assim o filme resulta fresco e com uma identidade própria. Não obstante, a referência que se destaca acima de todas e impregna a obra é de Lovecraft. Aqui detectamos as características típicas dos relatos do escritor como são o terror cósmico, devaneios com seres cósmicos, as seitas que prestam tributo a entidades desconhecidas, a ciência do arcano, os limites da carne, a difusa linha que separa a vida da morte, a transformação da carne nas mãos de entes superiores e ancestrais, os seres tentaculares, etc.
O filme não podia começar melhor, pois ao começar damo-nos logo de caras com um par de desconhecidos que assassinam a sangue frio e ateiam fogo a outros indivíduos. Devido ao escape de um dos massacrados, somos apresentados ao resto dos personagens, já que o polícia que o descobre ferido o leva a um hospital e aí conheceremos o resto dos personagens. A partir desse momento serão assediados por uma seita do oculto e por um ser de outra dimensão. Um ponto a favor da história é que os argumentistas/realizadores não apresentam nenhum tipo de clemência pelas suas personagens. Além disso optaram por combinar o CGI com maquilhagem old school, outro ponto a seu favor.
Por tudo isso, creio que encontramos ante uns realizadores com um futuro prometedor.