Como um susto a meio da noite, surgiu esta sequela de O Projecto da Bruxa de Blair, sem fazer ruÃdo e apanhando-nos completamente desprevenidos. E pelas mãos de um desses realizadores que tanto dão que falar, Adam Wingard – You’re Next, The Guest – que tem em espera projectos tão suculentos como o remake americano dessa maravilha que foi I Saw the Devil ou a adaptação estado-unidense de Death Note.
E de que trata esta sequela rodada no mais absoluto secretismo? Acompanhando o irmão da desaparecida Heather, voltaremos aos profundos bosques de Maryland. Aqui, outro grupo de jovens seguindo uma pista enviada por Internet, tratará de esclarecer o que aconteceu há duas décadas. Mas há uma coisa que eles esqueceram: as lendas nunca morrem.
Um filme que nas palavras do seu realizador, trata de mais do que sobre estar perdidos, mas sobre ser perseguidos. Toda uma declaração de intenções e uma boa jogada por parte dos criadores. Ainda que o estar perdidos forme parte da trama, o sentimento de algo que nos está a observar desde a meia hora de metragem ficará preso à nuca e não largará até que se abandone a sala.
Mas chega o momento de fazer várias perguntas. E a primeira que todo o aficionado fará: Está à altura do original? Não nos deixemos levar por fanatismos – e eu sou o primeiro já que sinto predilecção pelo filme de 1999 – Muta água passou pelo moinho desde então, o found footage tornou-se um estilo e talvez o fã esteja mais consciente do que antes e é mais difÃcil que se caia no jogo de um filme com estas caracterÃsticas.
Talvez um dos grandes problemas deste filme seja o facto de tardar a arrancar. Sim, quase todos os found footage sofrem do mesmo mal. Mas o detalhe de este filme pertencer a uma saga da qual sabemos a génese, poderia significar que podia subir o pano logo nos minutos iniciais, que teoricamente servem para conhecermos os bastidores e para que empatizemos. E aqui há outro problema… Custo muito empatizar com esta gente. Exceptuando a personagem de Lisa, interpretada por Carrie Harrington – actriz que tem dois dos filmes pelos quais espero de braços abertos La la land e Alien Covenant - idealizado e estruturado à moda de uma final girl de slasher, os restantes cumprem os parâmetros esquemáticos de todo found foootage: o que é protagonista mas tem carisma zero, a estranha, o elemento racial, a drogada, o que sabe de tecnologia.
E é justamente na tecnologia que vemos quanto tempo passou desde aquele filme de Daniel Myrick e Eduardo Sánchez que mudou o género para sempre. O que no filme original era um par de câmaras para gravar o material, aqui transforma-se em várias câmaras de mão de diversos tamanhos, não menos de meia dúzia de Go Pro e até um drone. Lamentavelmente, a este último não é dado todo o uso que podia ter sido dado. E o desenfreado uso de aparelhos de gravação leva-nos a percebermos (outra vez) uma série de perguntas que nos tiram completamente do filme: 1. As baterias são infinitas? 2. Se a câmara com mais funcionalidades e qualidade é a Go Pro, porque se incomodam em usar as outras mais aparatosas? 3. Quem fez a edição?
Além disso, um dos problemas ao usar diferentes câmaras é que se perde a sensação de claustrofobia necessária para que um found footage de terror te cole à cadeira. Coisa que vemos que funciona no último pedaço da pelÃcula quando, por eventos da narração, sobram apenas duas câmaras e essa claustrofobia anteriormente referida por fim dará um ar da sua graça.
Regressemos ao tema do tempo cinematográfico. O filme está ao serviço dos seus últimos 20 minutos. Um final muito bem rodado, e que te manterá encolhida certa parte do corpo, durante mais tempo do que o costume. Mas outra pregunta assalta-nos, mereceu que se aguentasse os primeiros e iterativos sessenta minutos? E precisamente esta última pergunta ecoará noutra forma: Valeu a pena esperar 17 anos para esta sequela? Não teria sido melhor escolher outra história no mesmo contexto e criar uma franquia nova? Estará o found footage destinado a desaparecer? Eu não tenho as respostas, Adam Wingard também não. Assim que te questiono, leitor. Aproxima-te com confiança. Deixa os preconceitos – e as vaias de Sitges – de lado e deixa-te levar em excursão ao bosque mais uma vez… que pode muito bem ser a última.